segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A estante e o cheiro;

Hoje resolvi arrumar a estante de livros do escritório de meu pai, que fica aqui em casa. Tirei todos do lugar e comecei a organizar, por ordem de tamanho, ou de assunto, ou de importância. Não perguntei se deveria, vi que estava desorganizado, olhei por uns segundos e descobri como organizar.

Os livros de física continuaram na prateleira superior, como sempre. Enquanto eu os organizava, pensava em quantas noites sem dormir meu pai passou lendo aqueles livros, estudando e tentando compreender o que estava escrito. Muitas, certamente.

Nisso, percebi que eu não deveria reclamar ao ler um ou outro livro de física, obrigatoriamente. Comparados a esses livros de meu pai, os meus são quase nada.

Na prateleira do meio coloquei os livros de temática espírita. Há tempos nem olhava para a cara deles, e ao organizar, percebi que lembrava do conteúdo de quase todos. Foram-me úteis, serviram de base para condutas que tento seguir atualmente. Ao menos não perdi meu tempo lendo aqueles livros.

Nisso, percebi que eu não deveria reclamar por ter lido tantos livros que hoje não considero mais importantes. Nenhuma leitura é em vão, porque se desenvolve, pelo menos, um senso crítico bem aguçado.

Na prateleira inferior deixei os livros antigos, que ninguém lê. Obviamente não servem apenas para ocupar espaço, nem para passar uma idéia quanto ao nível de cultura das pessoas dessa casa : "Nossa, livros! Quem gosta de ler assim é bem inteligente, einh!". Considero que sim, o são, mas não por causa desses livros...

Nisso, percebi que eles têm um cheiro forte. Não é cheiro de mofo, nem cheiro de algo ''guardado''. É cheiro de livro velho, e só. Aquele cheiro peculiar, inconfundível : é realmente um autêntico livro velho!

Quantas pessoas param para pensar no cheiro que os livros têm? Creio que poucas... Para sentir o real cheiro de um livro é preciso ter com ele uma relação de proximidade, uma intimidade respeitosa, como quem diz : "com licença, Senhor Livro. Posso cheirá-lo? Posso manuseá-lo? Posso me dar ao luxo de aprender algo contigo? Ah,Obrigada!".

Pois o cheiro que um livro velho tem é melhor do que o cheiro do novo. É como se fosse a cabeleira branca de um senhor e a cabeleira ousada de um jovem rapaz. Pelos cabelos se diz que tem mais experiência. Pelo cheiro se diz qual livro conhece mais o mundo.

Não me refiro ao conteúdo de tais livros, claro. O novo pode ser muito bem uma nova edição de um velho livro. Mas eu digo, qual livro conhece mais o mundo? Qual livro conhece mais faces de leitores, qual livro tem mais impressões digitais em suas páginas? O livro velho conhece mais o mundo! O livro velho, se falasse que nem fala nós, humanos, certamente diria:

"O mundo tem cheiro de novo. As pessoas que me lêem tem cheiro de novas. Novas não no corpo, novas não em suas cabeleiras, mas novas de alma. Pois quem lê, verdadeiramente, um livro, tem a alma nova. Nova como quem quer sempre aprender assuntos novos, nova como quem quer sempre ganhar experiências novas. Alma nova como eu, um simples e velho livro".

Ah... Quanta coisa nova me diz um cheiro velho!!